Foto: Reprodução
Dandaras - Coletivo de mulheres negras publicou em sua página do Facebook inscrição racista feita em banheiro da Biblioteca Central e cobra resultado de investigações
A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) chegou à marca de seis casos de racismo. Desde 2017, a instituição de Ensino Superior tem contabilizado frases e pichações de cunho racista em que acadêmicos negros têm sido vítimas de manifestações de ódio.
A mais recente delas ocorreu dentro da principal e maior biblioteca da universidade - a Biblioteca Central Manoel Marques de Souza - que fica no campus principal, no Bairro Camobi. No banheiro feminino foram escritas as palavras "pretos imundos", "macacos", babuínos" e "pretos na senzala". Ao lado, ainda dá para verificar uma manifestação política "#ele não", em referência ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL).
Tão logo a direção da biblioteca avisou a reitoria, a instituição comunicou o caso à Polícia Federal (PF) - pelo fato de o caso ter ocorrido dentro de uma autarquia federal - para dar início às investigações. E na manhã desta quinta-feira, técnicos da perícia da polícia estiveram no banheiro e em outras dependências da biblioteca central para colher provas que possam, de alguma forma, ajudar a identificar os possíveis autores das manifestações de ódio.
A reportagem conversou, nesta tarde, com o vice-reitor, Luciano Schuch, que lamentou o caso, o que, invariavelmente, acaba por macular a imagem da instituição:
- A UFSM não é assim. Mas essa faceta de intolerância e ódio nos entristece. O fato é que esses casos, infelizmente, são de difícil identificação. Veja que as manifestações se dão dentro de banheiros e essas pessoas, que agem de má-fé, se valem da privacidade, para propagar o ódio - diz.
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Schuch garante que a universidade dará todo apoio à PF para que se possa solucionar o mais recente caso:
- É claro que a Polícia Federal conduzirá, neste primeiro momento, as investigações. Mas se tivermos evidências que possam colaborar para chegar aos possíveis autores, a UFSM abrirá, de imediato, um procedimento interno para a responsabilização dessas pessoas.
Do lado da PF, o delegado Diogo Caneda, que está à frente das investigações, falou ao Diário que o caso - a exemplo dos anteriores - trará, mais uma vez, dificuldade na identificação dos autores:
- Infelizmente, esses casos são de difícil desfecho. Até porque as câmeras que existem, dentro da biblioteca, não devem ajudar tanto, a princípio, nas investigações. Quem faz isso dentro de um banheiro aproveita dessa situação de privacidade para cometer esse tipo de crime.
A Polícia Federal esteve, nesta quinta, no local com um perito e com um agente que realizaram um levantamento fotográfico do banheiro e ainda ouviram servidores terceirizados que trabalham no local. O próximo passo, segundo o delegado, é tipificar o crime, que pode ser enquadrado como racismo ou ainda injúria racial.
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O Gabinete do Reitor se manifestou por meio de uma nota na tarde desta quinta-feira:
OUTROS CASOS
Entre agosto e novembro de 2017, a UFSM teve três manifestações racistas e de ódio, desde a ofensas com os nomes de dois estudantes negros a desenhos de suásticas nazistas. À época, essas situações ocorreram em paredes dos diretórios acadêmicos dos cursos de Direito e das Ciências Sociais. Já em 2018, dois jovens negros sofreram agressões verbais dentro da Avenida Roraima - no campus principal - por um gari que os chamou de "macacos" e "negros sujos".
Em outubro do mesmo ano, um vaso sanitário do Colégio Politécnico da UFSM recebeu a frase "esses pretos fedidos vão morrer" com o desenho de uma suástica nazista e ainda "#B17", o que seria uma referência ao então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro.
Nas redes sociais, o coletivo de mulheres negras, Dandaras, publicou, ainda na noite de quarta-feira, uma postagem em que questiona quais medidas a UFSM adotou desde os primeiros casos, ainda em 2017. A nota termina ao dizer que "não vai ter preto na senzala, vai ter preto na universidade inteira (...)".